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Nascida em Tchechelnik, na Ucrânica, em Dezembro de 1920, Chaya Pinkhasovna Lispector, Clarice, é a mais nova de três irmãs, de uma família judaica que fugiu para o Brasil em 1921 na sequência das perseguições anti-semitas na guerra civil russa. A família chegou ao nordeste brasileiro onde adoptou nomes portugueses, e fixou-se no Recife. Aí Clarice passou a infância e adolescência.

Do Recife ao Rio, estuda Direito, torna-se jornalista, casa com um diplomata. Segue-se Belém (do Pará), Nápoles, Berna, Torquay (Reino Unido), Washington, até regressar ao Rio, onde morre em 1977, de cancro. De "Perto do Coração Selvagem" (1943) a "A Hora da Estrela" (1977), a vida confunde-se com a obra.

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Quando "Perto do Coração Selvagem" foi publicado em 1943, Lispector iniciava uma obra "ao contrário do que era a ordem dominante, e nesse sentido, uma obra desterritorializadora da tendência da literatura brasileira sobre a terra, o lugar, o ufanismo brasileiro", explica Carlos Mendes de Sousa, especialista em Lispector, professor de literatura brasileira na Universidade do Minho. Clarice rompe "com o modelo do romance nordestino" e cria "uma obra estranha a todas essas referências".

Tudo nela era raro, começando pelo "nome estranho e até desagradável, pseudónimo sem dúvida", escreveu um crítico. Foi esse o jogo (pertencer, não-pertencer) que ela jogou toda a vida. "Tenho a certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer, por motivos que aqui não importam, eu de algum modo devia estar sentindo que não pertencia a nada e a ninguém", escreveu Clarice.

Clarice era assim: um animal em bruto como Joana de "Perto do Coração Selvagem", e domesticada como a Lídia do mesmo romance, vivendo nessa intensa contradição de ser mulher, feminina, esposa e mãe, e de ser rebelde, livre, no limiar da loucura, na explosão mística dos encontros com Espinosa, comendo a barata como G.H. de "A Paixão segundo G.H.".

Quando publica "Perto do Coração" é uma "mulher à frente do seu tempo", a sua linguagem "é tão diferente, tão estranha", diz Mendes de Sousa, que "não houve um único mês em 1944 que não saísse uma crítica ao romance". Tudo estava ali na novidade "do fragmento, do interior, do feminino".

Essa estranheza na língua é tão grande que, ainda hoje, conta Benjamin Moser, autor americano da primeira biografia em inglês sobre Clarice Lispector, os revisores da Cosac Naify, a editora brasileira da biografia, "tentaram corrigir o português da Clarice. São pessoas que trabalham com linguagem, acham que ela escreve português errado. O que é, de facto, verdade. Ela própria diz isso, mas ela escreve do jeito que quer, é uma escolha."

No fundo, Clarice é isto: "Não, não, nenhum Deus, quero estar só! E um dia virá, sim, um dia virá em mim [...], eu romperei todos os nãos que existem dentro de mim, provarei a mim mesma que nada há a temer, que tudo o que eu for será sempre onde haja uma mulher com meu princípio." Ou ainda: "Basta me cumprir e então nada impedirá o meu caminho até a morte-sem-medo, de qualquer luta e descanso me levantarei forte e bela como um cavalo novo."

Hoje, diz Mendes de Sousa, Clarice "tem todos os ingredientes para ser uma escritora de culto". Em 100 anos, diz Moser, "Lispector vai ser um nome como Eça de Queirós, que até a criança na aldeia vai saber".

(extraído do texto: "Chegou a hora da estrela para Clarice Lispector" de Raquel Ribeiro, O Público, 31 de março de 2010)

 

OBRAS:

Romance

Novela

Contos

Literatura infantil

  • O Mistério do Coelho Pensante (1967)

  • A Mulher que Matou os Peixes (1968)

  • A Vida Íntima de Laura (1974)

  • Quase de Verdade (1978)

  • Como Nasceram as Estrelas (1987)

Crônicas

  • Para Não Esquecer (1978)

  • A Descoberta do Mundo (1984)

Correspondências

  • Correspondências (2002)

  • Minhas Queridas (2007)

Entrevistas

  • Entrevistas (2007)

Artigos de jornais

  • Outros Escritos (2005)

  • Correio Feminino (2006)

  • Só para Mulheres (2006)

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